terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Relato do nascimento da minha filha Lara Luísa.



Hoje minha filha completa 31 dias , somente hoje me sinto à vontade para descrever o nascimento da minha filha ou o que eu me recordo
desse dia.

Venho de uma experiência de violência obstétrica quando sofri um aborto aos 16 anos.
Aquela velha história :
Adolescente grávida sendo hostilizada , ofendida e mal atendida.
Após esse péssimo atendimento fiquei com sequelas físicas e emocionais.
Quase perdi as trompas por conta de uma infecção adquirida após a curetagem e desenvolvi síndrome do pânico e é aqui que tudo começa.

Aos 33 anos engravidei novamente após 3 anos de relacionamento estável , 17 de tratamento para síndrome do pânico.
Eu estava bem acima do peso e ainda em tratamento.
Mas, decidi que era hora, ou eu desistiria mais pra frente.
Nesses anos após o aborto meu sonho maior sempre foi viver a maternidade interrompida e exorcizar o fantasma da violencia que sofri.
No primeiro mês de tentativa engravidei e antes mesmo de engravidar eu tinha uma certeza.
queria um parto respeitoso.Por isso passei a buscar meses antes informações sobre parto humanizado.

Porém, minha data de parto estava marcada para o dia 26/12 e o único médico bem indicado estaria viajando.
Parti para uma outra profissional que logo de cara me deixou na mão, pois, eu estava tendo infecções recorrentes de bexiga e leves sangramentos.
Essa profissional me mandava ir ao pronto socorro ,mesmo estando em seu consultório.
Tentei outros na cidade que moro,mas, sem sucesso.Nenhum era aberto à humanização.
Vim para o Paraná , e aqui em minha cidade natal não existia humanização.
Passei por outro médico na cidade de Londrina que me desmotivou absurdamente , já querendo marcar a data da cesárea.
Em um domingo à noite durante uma emergência, ele se recusou me atender na maternidade , e as próprias enfermeiras me indicaram um
médico conhecido por fazer parto humanizado.

Comecei a me consultar com esse médico que dizia não haver problema algume em ter parto natural mesmo tendo síndrome do pânico (de fato não tem mesmo).
Eu já estava com 34 semanas e não havia mais tempo de encontrar outro médico e esse me parecia bem razoável.
Com 34 para 35 semanas precisei ficar internada tomando medicamentos ,pois, minha filha queria nascer.
Foi uma experiencia horrivel,eu não tolero muito bem a medicação administrada e não me senti bem no hospital, tendo a minha ansiedade aumentada.
Foram 3 dias horriveis!

Com 36 para 37 semanas minha pressao começou a subir, nada significativo 13 x 8 14 x 9 ,mas, em momentos de ansiedade no restante ficava tudo bem.
Eu estava dormindo quase nada e quando isso acontece costuma oscilar.
Eu e meu marido estavamos esgotados, longe de casa e sem muito apoio dos familiares.
Indo e vindo de Londrina , já estavamos cansados mesmo.
Porém, eu estava bem firme no meu propósito de ter um parto natural.
A idéia de ser cortada , anestesiada etc me assustava muito mais que a dor do parto.
Quem tem a síndrome me entende!

Com 40 semanas foi detectada uma infecção de urina e o médico me internou para tomar anti bióticos no dia 25 de dezembro, já me tratando com hostilidade,
chamando meu marido em particular para conversar sobre minha situação.
Como se a grávida não fosse eu.
Passei o dia 26 todo no hospital, acreditando que iria para casa após a medicação.
Até comecei a dançar com o soro no braço para ver se entrava em trabalho de parto.
Estava rindo , jogando com meu marido e otimista.
A noite a enfermeira veio aferir minha pressao, o aparelho dela estava com defeito e tive que segurar o medidor.
Deu 16 x 9!
Imediatamente avisaram o médico, e quando se retiraram do quarto pegquei meu aparelho que é bom e novo , aferi e estava 13 x8.
Chamei as enfermeiras que confirmaram com outro aparelho 13 x 8!
Logo em seguida elas começaram a conversar no corredor, voltaram e disseram que estava 16 x 9 mesmo.
Liguei para o médico para dizer o que estava acontecendo e ele me disse a seguinte frase:
"Não tente entender , é Deus que esta mandando fazer uma cesarea, se nao vai morrer voce e sua filha!"
Era noite, chovia e estavamos assustados , não conhecímamos nada naquela cidade.

Em alguns minutos o médico entrou pelo quarto.
Eu pedi indução, ele disse que não havia tempo.
Então eu fiz um pedido:
- Dr , já que não há jeito, que vai ter que ser cesarea, eu quero ver minha filha no primeiro momento.
Eu quero que seja o mais natural que possa ser sendo uma cesárea.

Ele disse ok e saiu.
As enfermeiras vieram e começar me "sulfatar" , eu comecei a ficar meio mole.

Fui levada para o centro cirurgico, e lá dentro tentei manter a calma, e pesei :
"Que seja feito o que tiver que ser feito!"
O anestesista me elogiou , disse q eu estava indo melhor do quem não tinha pânico, que eu nem havia reclamado com a raqui.
Ele esgueu minha mão e começou aplicar um medicamento no soro, eu comecei a apagar.
Perguntei porque aquilo, ele disse que era para eu ficar calma.
Nessa hora eu somente dizia que havia pedido pra não me doparem , que eu ia passar mal.
Tentei virar para ver o médico e suplicar para que não fizesse aquilo e só me lembro de ter meus braços presos num velcro.
A única coisa que me lembro é dos barulho do velcro!
Meu marido só pode entrar quando ela já havia nascido, não pode tirar foto do parto. Quando chegou eu estava apagada.

Acordei na sala de pós operatório, semi lúcida , sem conseguir me movimentar ou articular corretamente as palavras.
Tremendo muito.
Eu entrei em pânico.
Fui levada para o quarto , minha filha do meu lado e eu não conseguia vê-la, as pessoas riam, falavam dela, eu pedia explicação balbuciando as palavras
e ninguém dizia nada.Falavam que era da anestesia ,mas.eu sabia que não era.
FIQUEI APROXIMANDAMENTE 10 HORAS ACORDANDO , DORMINDO, TREMENDO , E PEDINDO SOCORRO.

Na manhã seguinte, ainda no mesmo estado, uma enfermeira fez a caridade de dizer que eu estava assim devido a uma medicação que haviam administrado e em uma hora
eu voltaria ao normal.
12 horas depois do nascimento da minha filha eu vi seu rosto.mas , nao consegui tocá-la.

Com bastante esforço, depois de mais algumas horas comecei a sentar , levantei,tomei banho e pude entao amamentá-la, ou tentar.
Pude ver seu rosto direito, sentir seu cheirinho.

Fiz o momento do nascimento o momento que deixamos o hospital.
Nessa hora eu chorei, fiz uma prece e a beijei.
Ela nasceu para mim e eu nasci como mãe , ali na porta.

Tive crises horriveis nos 5 dias que se seguiram.
Foi quando entao resolvi que ia apagar essa dor, e nao ia cultivar raiva , nem mágoa ,nem pensar mais nesse parto.
Que a maternagem seria a cura , a redenção.
Comecei a ficar horas com ela sobre mim , sentindo , amando e superei!Superamos!!

Sei que não estou curada do pânico,mas, estou tendo um pós parto tranquilo.
Talvez minha vida esteja mais tranquila do que sempre foi.
Amamentando sem problemas, em livre demanda!